Mestre Pelé da Bomba

 

Nome: Natalício Neves da Silva, Mestre PeIé da Bomba nasceu em 1934. E do tempo em que se jogava capoeira nos finais de feira e de festa. Também fez parte de uma geração dividida entre a marginalizada capoeira de rua institucionalizada capoeira nas academias.

Segundo o mestre Pelé da Bomba, a sua primeira roda foi na infância, o mestre ajudava o pai na luta pela sobrevivência. De diversas formas: fazia carvão, colhia mandioca e tratava a terra, também vendia as mercadorias na capital baiana. Foi assim que chegou à rampa do Mercado Modelo, próxima Igreja Nossa Senhora da Conceição da Praia, onde encontrou a nata da capoeira. "Conheci a capoeira aos 12 anos de idade, quando ia às feiras e às festas populares do recôncavo baiano. Eu ia com meu pai a Muritiba, São Félix e Cachoeira vender carvão. No final do dia, chegavam os 'senhores' de toda a região e".

O mestre Pelé da Bomba presenciou os lendários da capoeira da Bahia, para o mestre, era entre a Igreja da Conceição e a rampa do Mercado que rolavam as melhores rodas de capoeira da época. Em sua memória estão personagens como Valdemar da Liberdade, Bugalho, Caiçara, Onça Preta, Sete Mola, Zacarias, Traíra, Angolinha, Avani, Bel e DeI (irmãos), Cabelo Bom e Bom Cabelo (gêmeos), mas o que mais o chamou atenção foi Bugalho com sua agilidade e domínio do berimbau. "Tinha muitos bons jogadores de capoeira naquela época, além de Bimba e Pastinha. Os alunos deles não jogavam muito na rua. Eles evitavam por causa das brigas, não queriam ficar difamados. O pau quebrava e a polícia na cavalaria vivia 'escarreirando' os capoeiras, acabando com as rodas. Os capoeiristas, por sua vez, quebravam a polícia no cacete. Bimba e Pastinha queriam evoluir, acabar com essa imagem da capoeira".

Capoeira de Rua - O aprendizado da maioria dos capoeiristas dessa época era mesmo nas grandes rodas na rampa do Mercado Modelo e nas chamadas festas de largo, que começavam na festa de Nossa Senhora da Conceição da Praia - coração da cidade baixa, próxima ao elevador Lacerda - no dia 1º de dezembro e se prolongavam até o dia 8 do mesmo mês. Depois, vinha a festa de Santa Luzia, freqüentada pelos estivadores (trabalhadores do cais do porto), muitos deles, capoeiristas. "Era o dia todo: banho de mar, samba de roda, samba de viola que era uma tradição. Todos os ritmos vindos do recôncavo baiano. Nestas festas, reuniam-se os melhores mestres de capoeira e os melhores locadores de berimbau. Foi num desses momentos que comecei a cantar e a tocar", relembra.

Foi Bugalho, carregador de embarcações que, nas horas de descanso e nas noites de lua-cheia, ensinou o menino Natalício a gingar nas areias da praia da Preguiça. "Segui a tradição do meu mestre Bugalho, um grande tocador de berimbau. Ele era um dos melhores, tocava muito bem o São Bento Grande, principalmente quando era noite de lua. Sentávamos na areia da praia e, quando ele tocava, era possível ouvi-lo na cidade alta".

Além das rodas da Liberdade nas tardes de domingo, em que o guarda civil Zacarias Boa Morte "tomava conta", Pelé mostrava sua arte nas rodas de Valdemar da Liberdade, num galpão de palha de dendê, cercado de bambu. "Eu era ligeiro, tinha um sapateado que ajudava muito. Eles não me pagavam. E, quando eu chegava nas rodas da invasão do Corta Braço, no bairro de Pero Vaz, mestre Valdemar dizia: Lá vem Satanás! "

Experiência - Durante 25 anos Pelé deu aulas de capoeira e, também, no V Batalhão da Policia Militar. "Naquele tempo, era comum a polícia treinar capoeira". Além dessas atividades, mestre Pelé participou, ao mesmo tempo, de importantes grupos folclóricos da Bahia como o Viva Bahia. Fez apresentações com o grupo de mestre Canjiquinha, no Belvedere da Praça da Sé, shows para turistas, onde mostrava a capoeira, o maculelê, a puxada de rede e o samba de roda. Sorrindo muito, Pelé explica que "na capoeira, tudo sai da ginga. A ginga, o molejo e a flexibilidade são importantes para o capoeirista, tanto para defesa quanto para o ataque".

Retorno - Mestre Pelé ficou longe da capoeira por alguns anos. Foi trazido de volta às rodas pelo projeto de resgate e valorização de mestres antigos, criado pela Associação Brasileira de Capoeira Angola (ABCA). Hoje, o mestre é Presidente da associação e participa de eventos importantes na ABCA e no Forte da Capoeira (Forte de Santo Antônio Além do Carmo) local onde o mestre possui Academia de Capoeira Angola.

Recentemente o mestre Pelé da Bomba recebeu do titulo de Notório Saber "Guardião dos saberes Afrodescendentes" pela Faculdade Dom Pedro II na cidade de Salvador Bahia.